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Por que me abandonaste?

Extraído do livro As Riquezas Injustas, de Ernesto Cardenal, páginas 24 e 25

Meu Deus, Meu Deus por que me abandonaste?

Sou uma caricatura de homem

o desprezo do povo

Riem de mim em todos os jornais

Rodeiam-me os tanques blindados

estou sendo apontado pelas metralhadoras

e encerrado em cercas de arame farpado

as cercas eletrificadas

Todo dia me fazem chamada

Tatuaram-me um número

Fotografaram-me dentro da cerca

e é possível contar meus ossos

como numa radiografia

Levaram-me todos os documentos de identidade

Conduziram-me nu ante a câmara de gás

e se compartiram minhas roupas e meus sapatos

Grito pedindo morfina e ninguém me ouve

grito sob a camisa-de-força

grito a noite inteira no asilo de doidos

na sala dos doentes incuráveis

no corredor dos enfermos contagiosos

no asilo dos velhos

agonizo banhado de suor na clínica do psiquiatra

afogo-me na câmara de oxigênio

choro na delegacia

no pátio da prisão

no quarto de torturas

no orfanato

estou contaminado de radioatividade

e ninguém se aproxima para não se contagiar

Mas eu poderei falar de Ti aos meus irmãos

Eu Te elevarei na reunião de nosso povo

Ecoarão os meus hinos no meio de um grande povo

Os pobres terão um banquete

O nosso povo celebrará uma grande festa

O povo novo que vai nascer

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