O telefone celular é uma das melhores invenções do homem, na minha opinião (posso?). Opinião é algo particular, é de cada um. Não quer dizer que a pessoa esteja certa ou errada, apenas o modo que ela enxerga as coisas, é a óptica dela, e é inteiramente discutível. É algo pessoal e (in)transferível. Vai de acordo com a vivência de cada pessoa, e cada um tem experiências diferentes. Dito isso, agora explico o motivo de minha opinião: Meu pai morreu novo, aos 32 anos de idade, vítima de acidente de trabalho. Na época (década de 70), não era incomum as pessoas serem vitimadas em acidentes dessa natureza. Eu tinha dez anos na época, e era o mais velho. Depois vinham três irmãos. Minha mãe nunca havia trabalhado antes, não depois de casada. Meu pai era muito legal, sempre trazia doces pra gente, ou qualquer outra coisa que a gente gostasse. Fim de ano, por exemplo, era uma festa: presentes e mais presentes, e como o aniversário dele acontecia no dia 31 de Dezembro, era aquela festa! E a casa se enchia de gente, de amigos. Mas de repente ele desapareceu, “os amigos” também. Na empresa que ele trabalhava como prestador de serviço, a única coisa que deram pra minha mãe, foi um emprego na empresa que ele trabalhara, e ela tinha que ouvir todo dia as pessoas contando como ele morrera. Ela ficou aproximadamente cinco anos à base de calmante. Se antes tínhamos fartura, agora era “faltura”. Faltava tudo. Se antes íamos pra escola bem arrumados, agora íamos de qualquer jeito, com roupas que as pessoas davam. Praticamente ficamos sem pai e mãe, pois minha saía madrugada pra trabalhar, e só retornava à noite quase na hora de já dormir, cansada pelo trabalho, condução, e o peso da tristeza. Na época “nem havia metrô”, e o ônibus demova muito, a cada hora, eu diria. talvez nem fosse tanto tempo assim. Talvez fosse essa a impressão que dava, tamanha a expectativa e ansiedade de ver, de ter nossa mãe de volta. Não sabíamos a hora que ela iria voltar, e talvez tivéssemos medo de que ela também não voltaria, assim como nosso pai. “O pai nosso de cada dia dai-nos hoje.” E onde entra o telefone celular nessa história toda? É que na época se houvesse celular, com certeza nosso sofrimento seria menor, poderíamos ver, ou pelo menos conversar com nossa mãe durante o dia, não no sentiríamos tão abandonados, e ela tão angustiada em passar o dia inteiro sem ver os filhos. Enquanto escrevo pausei algumas vezes para me recompor, pois os sentimentos pareciam querer vir à tona. Hoje por mais que as mães trabalhem o dia inteiro, podem ver e conversar com os filhos, ainda que à distância, dar instruções, perguntar como estão, dar broncas (broncas pelo telefone é melhor, já alivia pra quando chegar à noite).
O telefone celular é uma das melhores invenções do homem. Depois vem a o analgésico.