
Uma vez fui gravar em uma clínica de recuperação para dependente químico. Nos chamou atenção em especial “dois residentes”, um médico (com especialidade em anestesia), e um outro rapaz que qualquer um diria ser um galã de novela: boa aparência, olhos verdes, etc. Aliás era uma clínica para pessoas relativamente abastadas. Esse rapaz, não estava em sua primeira internação, e segundo ele, seus pais lhe davam um carro para que ele parasse com o consumo de drogas. Ele parava por alguns dias, depois vendia o carro e consumia tudo no vício. O médico, eu gravei entrevistas com ele mais duas vezes fora da clínica. Continuava com o vício.
Creio que profissionais do mundo inteiro consideram uma pessoa viciada, uma pessoa doente, que não seria responsável por seus atos, tanto é que quando uma pessoa é internada em uma clínica, ela é acompanhada por psicólogos, pois a pessoa, com o processo de desintoxicação, tende a cair em depressão, pois começa a pensar nas coisas que fez, coisas que pegou da própria casa para vender e consumir em drogas. Muitos quando vão usar uma droga pela primeira vez dizem: “Eu não vou me viciar. Quem se vicia é quem tem cabeça fraca. Eu tenho cabeça, sou inteligente.” E aí se torna um dependente químico. Pois é, os profissionais consideram uma pessoa assim, uma pessoa doente, mas quando ela decidiu usar pela primeira vez, ela sabia o que estava fazendo, não era doente.
Por causa do vício, muitos matam e se matam, meninas se prostituem, pessoas em ascensão profissional são lançadas na sarjeta, famílias são destruídas, enfim: um caos total.